Baía dos Tigres, Namibe-Angola
Catalogada nos mapas de navegação Portugueses e Ingleses dos séculos XVII e XVIII, “Great Fish Bay” a Grande Baia de Pesca, ou Baia dos tigres despertou nos pescadores algarvios o desejo de estabelecer naquele lugar uma estrutura de comercio de pescado forte.
Em 1861, aquando da chegada dos primeiros algarvios que ali chegaram, encontraram uma península, que tinha um ecossistema muito próprio, com diversidade e qualidade de pescado como poucas no mundo já explorado na altura, entretanto em condições extremas e desafiantes para qualquer fixação. Quatro anos depois, em 1865, chegaram os primeiros pescadores algarvios, ousados e motivados a estabelecerem-se nas condições adversas que constituía o lugar.
O maior dos desafios sempre foi o acesso a água potável. Hermenegildo Capelo, descreveu no seu relatório, quando ali esteve, juntamente com Roberto Ivens, no ano de 1896, no decurso de uma expedição, que o abastecimento de água provinha de duas cacimbas que existiam no lado continental, mas a água era intragável a tal ponto que passou a ser utilizada apenas em limpezas e como último recurso, depois de fervida e filtrada, e assim sendo, era transportada em pipas através de barcos à vela, a partir de Moçâmedes e do rio Curoca, perto de Porto Alexandre (Tômbua) e assim foi por largos anos, dado que, a fixação dos algarvios na Baía dos Tigres foi efectuada por sua conta e risco, e talvez mesmo não interessasse de início ao Governo português, investir em infraestruturas naquelas paragens, ademais, cresciam os portos de Porto Alexandre e Moçâmedes já com números razoáveis de pescarias e com o comércio de pescado bem estabelecido, logo, o projecto Baia dos Tigres não valia o risco.
Já em período de liderança de Norton de Matos entre 1921-1924, os Tigres beneficiaram da acção daquele governante, pelo menos em parte, com a instalação de um destilador de água do mar que passou a produzir vinte e dois mil e quinhentos litros (22.500L) diários de água doce. Entre manutenções e ineficiências do sistema, os algarvios foram dando passos lentos na construção e estabelecimento da povoação.
A partir 1950 antevia-se já o abastecimento à povoação da água vinda da foz do Cunene. O sonho das gentes da Baía dos Tigres estava prestes a tornar-se realidade.
Com a entrada nessa década, o governo português acabou por se render à audácia daquela gente abnegada e disposta a muitos sacrifícios, muito trabalho e a privações extremas, mandou construir vários edifícios públicos que ajudaram a tornar a fixação humana. Eram edifícios alinhados de um lado e do outro da única rua cimentada, que servia também de pista de aviação, de entre os quais, o posto sanitário, a escola, a estação radio-telégrafo-postal, o hospital, a delegação marítima. E para que as areias das dunas, trazidas pelos ventos que não paravam de soprar não ficassem acumuladas cobrindo as construções, eram assentes sobre pilares de cimento em forma de palafita, o que conferia à Baía dos Tigres o ar da sua singularidade. Foi construída também uma Capela, a Capela de S. Martinho, cuja arquitectura imponente nos faz lembrar uma catedral. Era para a população dos Tigres a sentinela vigilante, guardadora e protectora, no interior da qual nenhum mal lhes podia acontecer.
A Baía dos Tigres era formada por uma longa península, lançada quase na direcção Norte-Sul, paralela à costa, com cerca de 35 kms de comprimento, delimitando um braço de mar com 11 kms de largura máxima (a norte), não ia além de 3 a 4 metros de altitude, enquanto, o litoral que lhe fica em frente era constituído dunas gigantes que subia até ao 200 m, num enorme maciço com mais de 10 kms de largura, e ultrapassava os 100 m a menos de 1 km do mar.
Em 1962, foi concluído o período experimental do sistema de tratamento e abastecimento de água doce na foz do Cunene, transportada em condutas de fibra-cimento, chegou finalmente a água potável à toda baía, feito que infelizmente não durou como o expectável. No dia 14 de Março de 1962, pouco depois de construído o sistema de captação de águas na Foz do Cunene, a natureza nos seus ciclos de eventos catastróficos naturais, mandou uma forte calema atirada de SW, que embateu furiosamente na parte de fora do saco da península, com ondas de mais de dez metros de altura, e provocou a ruptura do istmo no ponto que ligava a povoação ao Continente, destruindo naquele ponto a conduta de fibrocimento que transportava a água através do deserto, daí resultando o corte à população do fornecimento de água canalizada vinda do rio Cunene. Foi um espectáculo terrível contam os antigos habitantes.
A Baía dos Tigres passou então a ser uma Ilha, deixando ainda mais isolada e desolada. A diminuta população assistiu impotente ao espectáculo, temerosa e sempre à espera de que a própria ilha fosse tragada pelo atlântico. Um fenómeno natural que se concluiu ser cíclico.
Mapas de navegação antigos, revelam nas várias expedições, alguns representando Baías e outros ilhas em diferenças de períodos entre 0s 60-80 anos e hoje, começa a ser notória a evolução dos bancos de areia na zona de ruptura, reduzindo as distâncias e aproximando-se cada vez mais uma reconstituição da baía.
Sim, a Ilha dos Tigres, poderá voltar a ser uma Baia nos próximos 20/30 anos.
Após a calamidade, tomara-se outras medidas, o abastecimento voltou pelo transporte marítimo, pese embora mais encurtado, dado que o sistema de captação na foz continuava a funcionar, tendo-se perdido apenas a rede de transporte em fibrocimento. Neste período foram construídos 3 reservatórios, 1 elevado e dois subterrâneo para conseguir armazenar o máximo de água doce possível, transportadas por um batelão.
Em 1975, por conta dos conflitos de independência, o apoio logístico, foi se tornando cada vez mais reduzido, até deixar de haver. A ilha dos Tigres foi completamente abandonada, e a povoação, isolada, sem água potável nem transportes, sucumbiu ao abandono definitivo. Nalguns registos, entre 1970-73, a povoação de São Martinho dos Tigres contava com 400 casas, habitadas por 1.068 pessoas completamente dependentes da actividade piscatória.
Aquela zona especial, é hoje, para além da abundância de pescado e de animais marinhos, entre os quais se destacam as tartarugas, focas, a Baía dos Tigres é riquíssima em espécies de aves que ali nidificam.
A Baía dos Tigres, ou melhor, a Ilha dos Tigres, é hoje um lugar abandonado, árido, salgado e fantasmagórico. Um lugar sagrado em meio às dunas que não cessam de se movimentar sob a força de ventos impiedosos que tudo cobrem à sua passagem.
Uma verdadeira aventura que todos deveríamos experienciar e é o principal e mais solicitados destinos do nosso portfólio de viagens.
Uma aventura de pura adrenalina, que contempla a passagem de carro entre o Atlântico e a formação de dunas de mais de 200 de altura e o viver de perto a nostalgia de um passado recente de inúmeras possibilidades e o sonho de ver a mesma revitalizada como uma mais valia para o mais a nível econômico, biodiversidade, conservação e turismo.
Principais Destaques:
- Passagem pelos RISCOS, o corredor entre dunas gigantes com mais de 300 metros de altura e o mar em tempo e condições especificas de passagem, oferecendo uma aventura única em meio a uma paisagem exuberante e experiências turísticas fantásticas. É dos poucos lugares no mundo onde se pode apreciar o encontro do mar com dunas numa sincronia natural perfeita;
- Observação de várias espécies animais como: Focas, Pelicanos, Flamingos, Gaivotas de Bico Amarelo e de Bico Vermelho, Corvos Marinhos, Chacal De Dorso Negro e Hienas Castanhas. Baleias e Golfinhos em épocas de migração.
- Escalar Dunas com mais de 200m e descer em pranchas de areia.
Curiosidades sobre a origem do nome:
- Segundo a crença popular, o nome Baía dos Tigres, foi inspirado nos fortes ruídos causados pelo vento que sopram a sul da baía, semelhantes ao uivo de tigres, resultante do efeito do movimento das areias das dunas impulsionadas pelos ventos fortes que fustigam a Baía.
- Para muitos a sucessão de dunas castanho-baço parecia, à distância, semelhante à pele raiada de um tigre.
- Outros defendiam, que na altura da fixação, o local estava infestado de Hienas Castanhas e de Cães Selvagens que pescavam em matilha, tendo sido confundidos com tigres.
Nota: Não há registos científicos da existência de Tigres na região da Baia dos Tigres.
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